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Transição de carreira: uma questão geracional?

  • Foto do escritor: Natália Tayota
    Natália Tayota
  • 22 de ago. de 2024
  • 4 min de leitura

Atualizado: 27 de ago. de 2024


escritório com sala vazia representa a evasão de profissionais no mundo corporativo
Cada vez mais profissionais escolhem deixar sua cadeira corporativa para fazer transição de carreira

Na época dos nossos pais e avós, o mais comum era que a escolha profissional perdurasse a vida inteira. Tá certo que só tinha meia dúzia de profissões para escolher e, naquele tempo, a angústia da escolha talvez fosse menor do que é hoje. As pessoas ficavam 20 ou 30 anos na mesma empresa ou cargo público, pois isso era sinônimo de orgulho e estabilidade profissional. De uns tempos pra cá, no entanto, ficou mais corriqueiro escutar o termo "transição de carreira'’. Por que será que tanta gente tá querendo transacionar de profissão? Por que tantas pessoas infelizes e adoecidas no trabalho? O mundo corporativo não está dando conta de satisfazer nossos ideais de carreira?


Com tanta gente mudando de profissão, a questão que surge é: por que você escolheu a profissão que escolheu? Foi por modismo, medo de fazer o que você queria, o mercado, a sociedade, foi uma escolha a partir do seu ideal de carreira ou o ideal dos seus pais? Antigamente, as profissões e ofícios eram passados de geração em geração. Se o pai era alfaiate, o filho também iria ser. Caso fosse médico, era comum o filho seguir a mesma profissão do pai. E parece que essa lógica do pai influenciar na escolha profissional do filho continua até hoje, porém com menos força que antes.


As gerações mais novas têm esse ideal do trabalho tradicional um pouco menos proeminente do que a geração dos millennials, hoje com 30 e 40 e poucos anos. O ideal de carreira executiva e os cargos de liderança parecem não despertar mais o interesse dos jovens, assim como o interesse por cursar uma universidade, o que para os mais velhos era supervalorizado. E a tendência é que esses jovens mudem de carreira diversas vezes ao longo da vida, diferente do que vemos em gerações passadas.


Para quem é millennial, a ideia de a empresa ser a extensão da nossa casa e família, aliado a outros discursos corporativos, fez a gente dar muito mais importância ao trabalho do que deveria. E, para além disso, permitir certos abusos do empregador em trocas de mimos corporativos. Pois se a empresa é como se fosse a sua família, quem é o dono da casa? Uma empresa ou instituição é o representante simbólico do pai, aquele que provê e te ensina. Os discursos de chefe, embora agora se fale de gestão horizontal, são quase sempre autoritários e paternais ou, melhor, patriarcais. 


caneca de melhor chefe do mundo, the office
Seu chefe é o melhor chefe do mundo?

E já faz um tempo que estamos vivendo a crise do patriarcado, o que seria uma hipótese do porque os mais jovens estão mais descolados do discurso do pai e buscando outras formas de ocupação, que não o sonho de trabalhar em uma grande corporação. Com as pautas feministas e os movimentos sociais, passamos a questionar qual o lugar do pai e das instituições que, até então, sempre privilegiaram os homens. Se a autoridade e a figura paterna já não tem mais tanta força assim, o modelo da instituição provedora também se torna enfraquecido. 


Os millennials, no entanto, são a geração da transição, ainda têm forte o discurso do pai e, ao ver as novas possibilidades de ocupação contemporâneas, se veem '’regredidos" em sua posição subjetiva, questionando o porquê da escolha. Talvez seja por isso que a geração da transição esteja transacionado tanto na profissão. Com mais informação e questionamento sobre a lógica social do trabalho, além do exemplo dos mais jovens que buscaram, por exemplo, carreiras autônomas e digitais, muitos profissionais se angustiam e começam um movimento de fugir do sofrimento do trabalho que é abusivo, que não respeita o funcionário, que paga mal, que consome seu corpo e sua alma e, muitas vezes, não faz distinção do que é público e privado. O adoecimento psíquico ocupacional pode se manifestar em crises de ansiedade, tristeza, falta de sentido na vida, além do Burnout.


Existe um certo conformismo e normalização em relação a comportamentos praticados em empresas. Normalmente, muitos dizem: "o mundo corporativo é assim mesmo'’, o que, na lógica social, seria o mesmo que dizer: "os homens são assim mesmo, são todos assim, homens são todos iguais". Não deveria ser normal o movimento de normatizar e normalizar comportamentos autoritários e abusivos, que colocam o sujeito no lugar de passividade e aceitação incondicional só porque o "modelo" é assim. E quem é que fez o modelo? 


Por fim, o discurso de que a empresa vai te prover fonte de prazer e satisfação a partir de um modelo ideal e instituído pelo patriarcado parece estar perdendo o sentido para quem busca um processo de transição profissional. Escolher uma profissão não é fácil, porque é difícil mesmo reconhecer o que se deseja, pois isso está inconsciente. Mas, ao fazer o exercício de escolher uma nova ocupação, seria interessante pensar em responder algumas perguntas e analisar o porquê da escolha anterior. E, sim, é verdade que a escolha profissional vem muito cedo, ainda na adolescência, numa fase que você ainda nem sabe direito quem é você, mas, pra pensar de um jeito mais simbólico, o que significa você ter aceitado a escolha do Outro? Como você articula a sua insatisfação e sofrimento no trabalho com suas dinâmicas familiares? O que você busca na nossa profissão que você está buscando? 


 
 
 

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