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Migrações: o sofrimento psíquico do ser imigrante

  • Foto do escritor: Natália Tayota
    Natália Tayota
  • 21 de ago. de 2024
  • 5 min de leitura

Atualizado: 28 de ago. de 2024



O que motiva uma migração pode ter causas diferentes para cada sujeito, mas para todos significa uma ruptura, que pode ser boa ou ruim, ou boa e ruim. O sentimento de

ambivalência, a divisão, a sensação de ser e estar cindido podem desencadear sofrimento psíquico no imigrante que se vê em dúvida sobre o que fazer com suas raízes. Cortar ou manter suas raízes? O "desenraizar-se" faz parte de todo processo migratório, que pode ser por livre escolha do migrante ou por uma força externa, como é o caso dos refugiados, exilados ou expatriados. Sendo assim, quando uma raiz é arrancada, ela pode ser plantada de novo em outro lugar? Em geral, sim, mas vai depender do tipo de planta e da raiz. Algumas plantas vão se regenerar bem, outras não tão bem assim. Para arrancar uma raiz, é preciso ter cuidado, pois se ela for danificada, isso pode afetar a capacidade da planta de se estabelecer em um novo local. Pode-se descobrir, também, que as raízes estavam apodrecidas, porque não é toda raiz que é saudável; uma família também pode ser muito disfuncional e causar sofrimento nesse sujeito que deseja partir.


Quem decide partir para viver em outro país, é um ser partido, fragmentado, dividido entre a necessidade de replantar suas raízes ou comprar mudas novas. Mudar é ter novas mudas para plantar. E o que muda quando você se muda? As migrações podem ter motivos diversos, entretanto, mesmo se forçadas ou voluntárias, a partida sempre vai causar algum estranhamento no sujeito. Afinal, quando você se muda, você passa a ser aquele que é estranho, o estrangeiro. Como é ser estrangeiro? O que você faz com a estranheza diante dos outros e de você mesmo? Para Freud, uma das leituras possíveis para o que ele nomeia como 'o estranho familiar', é de que aquilo que estava enraizado, quando é arrancado da terra, causa uma certa estranheza, mas, ao mesmo tempo, uma sensação familiar. Você já viu de perto como são suas raízes? Uma raiz pode ter várias pontas soltas e desconexas.


uma árvore verde e amarela representa as raízes da brasilidade
Onde estão suas raízes?

As árvores podem representar muitas coisas e umas das metáforas possíveis é o símbolo da sabedoria e ancestralidade. Quanto tempo e gerações dura uma árvore? Quais são os frutos que ela dá? O ditado diz que "o fruto não cai muito longe da árvore". Ao cortar suas raízes para se mudar de país, o que você vai fazer com as raízes? Você perde as raízes ou as desloca para o seu novo local? Migrar é cortar e descartar as raízes ou replantá-las em outro lugar? Nossa família é quem nos rega de saberes para podermos florescer, porém nem todas as relações têm um bom cultivo da terra e das raízes e, para poder florescer, é preciso encontrar outro terreno. 


Quem migra por vontade própria pode estar buscando manejar as raízes para replantar-se na vida. Em outro solo, nasce outra planta, seja com suas próprias raízes, seja com uma nova semente. E isso não é sem dor, mesmo para quem tem ótimas relações familiares. E pra quem não tem, pode ficar a sensação de culpa e remorso, pois o que se espera socialmente é que você ame as suas raízes. Na distância, podem surgir novas relações com as raízes, muitas vezes são melhores. Com a migração, é possível replantar novas relações com a sua origem. Quando você se afasta da sua família, você se torna outro? Você é mais livre? Quem é você? Uma família também pode ser um lugar de aprisionamento e de não-florescimento. Migrar é como nascer de novo. E quando você nasce de novo, você pode escolher quem você quer ser. Quem você vai ser?


O que se perde numa migração? 


Migrar também envolve o perder. O que se perde? A perda do laço cultural com o Brasil, a perda da língua materna, a separação da família e dos amigos, mas, por outro lado, também pode significar a perda da vergonha de ser. Isso seria uma boa perda? Muitos imigrantes podem assumir um "novo eu" em outro país. E nessas condições, se perde ou se ganha um lugar? Toda a perda envolve o luto? A maioria, mas nem todas. 


Se mudar pode ter um significado de ascensão social em busca de melhores condições de vida ou, se a condição já for boa, pode ser uma necessidade de viver outras formas de vida e cultura. Uma nova cultura pode gerar choques, dependendo de onde se escolhe viver. Para alguns imigrantes, o início pode envolver a vida sem visto ou permissão, o viver sem documento, "ser ilegal", clandestino, um sujeito sem identidade, mesmo que temporariamente, pode trazer consequências psíquicas. 


O novo lugar, o desafio da nova língua, o clima diferente, a necessidade de construir novas relações, o sentimento de "ser estranho" em outro país pode resultar em sintomas de ansiedade, angústia, solidão e sensação de não-pertencimento. Muitas vezes, também pode envolver um tipo de luto, ou seja, o perder a fantasia do que você imaginou que era viver fora, tudo isso pode ser angustiante na vida do imigrante.


Brasileiros no exterior: interculturalidade e multiculturalismo 

o sol e a lua, ser imigrante é viver em dualidade?
Ser imigrante é viver em dualidade?

A interculturalidade e o estar dividido entre duas culturas pode ser motivo de conflitos internos. Qual o lugar da cultura para cada sujeito? O brasileiro é, por excelência, um ser multicultural, pois foi assim que nos constituímos como nação. O que significa ser brasileiro? A maioria de nós vem de famílias migrantes e pode ser que você já tenha vivido conflitos culturais dentro da própria família, pela diversidade de crenças, tradições e saberes. Quando se vive em outro país, o conflito intercultural pode aparecer de forma mais expressiva e se manifestar em negação ou reafirmação da identidade cultural. Você é "mais brasileiro" quando está fora do Brasil ou nem gosta de ser reconhecido como brasileiro? 


Há brasileiros que moram no exterior e não querem conviver com outros brasileiros, isso seria uma forma de negar as raízes? Já outros fazem questão de manter sua brasilidade viva e só se relacionar em núcleos de brasileiros, que às vezes não é por afinidade, mas só pelo fato de ser brasileiro. Pode-se não gostar de verdade da pessoa, mas pode existir a saudade de falar português, da comida brasileira e dos lugares afetivos que se tem na memória. Isso poderia ser uma forma de aplacar a solidão, entretanto uma relação que nasce por condição situacional também pode gerar o sentimento de não-pertencer, mesmo diante dos "seus'’. A nacionalidade é aquilo que nos une? Nem sempre. 


Para a #psicanálise, a divisão é uma condição inerente ao ser humano por estarmos divididos entre o consciente e o inconsciente. A ambivalência de ser e estar em um lugar que não é seu de origem pode gerar uma confusão identitária e outros conflitos psíquicos. Quem é você fora do Brasil? Qual é o seu lugar? O que te faz sofrer por morar no exterior? Um processo de análise pode te ajudar a responder suas questões e te fazer entender os conflitos internos de ser imigrante, para você poder encontrar o seu lugar no mundo. 

cadeira vazia, qual seu lugar no mundo
Você sabe qual é o seu lugar?


Se você quiser se analisar, posso te ajudar!

É só me enviar uma mensagem pelo WhatsApp 11 99782-9459

 
 
 

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