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Mas será que eu sou normal?

  • Foto do escritor: Natália Tayota
    Natália Tayota
  • 15 de ago. de 2024
  • 3 min de leitura

Atualizado: 23 de ago. de 2024

homem com crise de identidade
Eu sou normal?

Imagino que você, assim como eu, já se fez essa pergunta: eu sou normal? Essa é uma questão que permeia a adolescência e a juventude e que fala do sentimento de “querer ser igual a todo mundo”. É certo que nem todo jovem quer ser igual a todo mundo, mas tem uma fase que é comum querer se encaixar, mesmo que seja no grupo dos "desiguais". Querer ser normal na adolescência é, muitas vezes, abdicar do próprio desejo para fazer parte do grupo. Mas, e na fase adulta, até que ponto é "normal" "querer ser normal"?


A palavra normal é de natureza morna. É a resposta-padrão para quando não se tem ou não se sabe o que dizer. "- Ah, eu tô normal, tá tudo normal!”. Normal é uma palavra boa ou ruim? Ser igual ao outro, é ser um normal? A gente tende a confundir e restringir o significado da palavra normal ao que é comum. Uma coisa pode até ser comum, mas nem sempre é normal. Quem é que quer ser comum? Quem quer ser normal? É anormal não querer ser normal?


Ser normal ou ser anormal? " - Será que estou ficando louco"?! O medo da loucura assombra muitos daqueles que fogem à norma. É pejorativo e estigmatizante ser taxado como louco, mas ser taxado como “normal”, é normal? Quem passa a vida tentando se enquadrar em padrões normativos está dentro da normalidade? E aí, eu te pergunto: você é normal? 


Quem foi que inventou a norma? O que é ser normal? A psicanalista Joyce McDougall (1920-2011) tentou responder a essa questão no texto “Em defesa de uma certa anormalidade” (1983). Para a autora, o ideal de normalidade é um sintoma, uma espécie de defesa, porque o estar “bem demais na própria pele” inviabiliza que o sujeito se coloque em questão. Quem não tem questões então seria o sujeito dito normal? E será que é normal não ter sequer uma questão na vida?


A normopatia, a normose ou a normalopatia, como o professor e psicanalista Christian Dunker gosta de falar, são termos diferentes para nomear essa gente que quer ser muito normal. Muita gente pode querer não ser comum, mas também não quer ser “anormal”. A norma, então, seria a identificação com o desejo dos pais, com o desejo do Outro. Segundo McDougall, “a vontade de escapar à conformidade é o desejo de transgredir as leis familiares. Por outro lado, querer “ser normal” é, em primeiro lugar, uma tentativa de obter o amor dos pais, respeitando suas interdições e abraçando seus ideais” (p.174) 


A #normatividade da vida cotidiana é, na verdade, adoecedora para o sujeito que tenta se enquadrar e não consegue. Então podemos dizer que a gente se enquadra na norma porque estamos fugindo de responder à questão: quem eu sou?! Se estamos presos às normas sociais, à aprovação e ao amor dos pais, faz sentido que a gente não se questione e siga o padrão normativo que foi passado de geração em geração. Mas não questionar a geração e "ser normal" nesse mundo do jeito que é, isso sim é uma loucura, não é?


Questionar-se é a possibilidade de criar, de inventar um “autopadrão”, o "seu normal", é tentativa de descolar da ideia de querer ser igual a todo mundo. Não que seja fácil descolar do padrão, na verdade é bem difícil sustentar o “não ser normal”. Mas como diz o hit famoso:


"Eu juro que é melhor não ser o normal, se eu posso pensar que Deus sou eu!"


Referência

McDOUGALL, J. Em Defesa de uma certa Anormalidade – Teoria e Clínica

Psicanalítica. Porto Alegre: Artes Médicas, 1983.


 
 
 

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